Enquadramento
Créditos: 
Joana Andrade

A paisagem litoral de Peniche é marcada por geodiversidade singular que lhe confere enorme beleza natural. São vários os geossítios (locais com interesse geológico) que aqui se podem descobrir, nos quais se destaca o Arquipélago das Berlengas. A sua paisagem geológica é caracterizada por litologias diferenciadas que não são comparáveis com outros lugares do Maciço Ibérico, quer na composição quer na idade, bem como na deformação das rochas que contém. Além da sua monumental beleza e singularidade, este arquipélago apresenta elevado interesse científico, pedagógico e cultural, para toda a comunidade educativa, bem como para o público em geral.

O arquipélago das Berlengas, caraterizado por diversos tipos de rochas, localiza-se a cerca de 10km a W da península de Peniche em pleno oceano. É formado por três grupos de pequenas ilhas e rochedos, sendo o de maior dimensão, a Berlenga. A cerca de 1,7km a W das Berlengas encontram-se as Estelas e 6,5km a NNW, os Farilhões e as Forcadas.

As rochas que afloram no Arquipélago das Berlengas testemunham a complexa geodinâmica que tem sido a evolução dos  ciclos de abertura e fecho de oceanos no planeta Terra.  De facto, as idades estabelecidas, como inferior a 420Ma para as rochas de composição magmática que instruem as litologias metamórficas dos Farilhões e Forcadas e de cerca de 300Ma para o granito das Berlengas sugerem que estamos na presença de uma história longa e muito antiga associada com a evolução da Terra, primeiro no Neoproterozoico e, posteriormente, no Paleozoico.

O terreno exótico que constitui o Arquipélago das Berlengas fez parte do supercontinente Pangeia, única massa continental que existia no final do Paleozoico, e integrava a cadeia montanhosa Varisca Ibérica. Após a formação da Pangeia inicia-se a sua desagregação com a abertura de oceanos, da qual se destaca o Atlântico. Este oceano abre de sul para norte por riftogénese e inicia a separação do continente africano da América do Sul, progredindo com o afastamento do continente europeu do da América do Norte. É neste contexto, caracterizado por estiramento da crusta superior, em regime frágil, que se desenvolveram estruturas tectónicas em “teclas de piano” que irão ser responsáveis por subida e descida de blocos de terreno limitados por falha geológicas. Na região de Peniche, foram reconhecidos como blocos soerguidos os que contém o Arquipélago das Berlengas e os calcários que afloram na península de Peniche e como abatidos as áreas ocupadas pelo mar entre as Berlengas e o Cabo Carvoeiro e pelo tômbolo de areia que se desenvolveu entre as povoações de Peniche e Atouguia da Baleia.