Gaivota-de-patas-amarelas
Larus michahellis
Créditos: 
Raquel Correia

Em Portugal, a gaivota-de-patas-amarelas nidifica no continente, nas Berlengas e em praticamente todas as ilhas e ilhéus dos Açores e da Madeira. Está presente ao longo de grande parte da orla costeira continental, em especial desde o cabo Carvoeiro até ao Sotavento algarvio, geralmente no litoral rochoso e em meios urbanos, ocorrendo pontualmente no interior norte. A maior parte da população é bastante sedentária, no entanto, algumas aves juvenis anilhadas na ilha da Berlenga foram observadas, no Reino Unido, França, Espanha e Marrocos. No mar, esta gaivota tem uma distribuição marcadamente costeira, não se afastando para águas além da plataforma continental.

A colónia de reprodução das Berlengas é uma das maiores da Europa e, nas últimas décadas, a população aumentou de cerca de 5 000 casais reprodutores em 1983, para 45 000 indivíduos em 1994 [incluir gráfico]. Este impressionante aumento deve-se à natureza adaptável, oportunista e gregária destas gaivotas que, relacionado com as excelentes condições de nidificação que as Berlengas proporcionam, nomeadamente, a elevada disponibilidade de alimento, obtido facilmente em lixeiras ao longo da costa de Leiria e Lisboa, e junto das embarcações e dos portos de pesca, permitiu que a espécie se tornasse superabundante nas Berlengas. Este número tão elevado de gaivotas-de-patas-amarelas levou à necessidade de intervenção humana para baixar o efetivo populacional, com o objetivo de combater a degradação do ecossistema das Berlengas. A grande concentração de gaivotas-de-patas-amarelas resulta na alteração dos parâmetros químicos do solo, devido à excessiva nitrificação proveniente dos seus dejetos. No caso da arméria-das-Berlengas, uma planta endémica das Berlengas, o uso da planta pelas gaivotas para instalar os seus ninhos, resulta na sua morte. Por outro lado, as gaivotas são aves muito generalistas que predam as lagartixas-das-Berlengas e, até, as crias de outras aves marinhas. O impacto das gaivotas sobre o sardão não é de predação, mas sim de ataque para defesa dos ninhos (que aumenta quando os ninhos estão na proximidade das tocas dos lagartos), o que, numa população de efetivo tão reduzido, torna-se muito significativa. No LIFE Berlengas pretende-se estabelecer zonas de exclusão na ilha da Berlenga para criar áreas livres de pisoteio pelas gaivotas e reduzir os níveis de nitrificação, com o objetivo de aumentar a área de distribuição de plantas autóctones. Para além dos impactos negativos que têm sobre a restante biodiversidade das Berlengas, as gaivotas-de-patas-amarelas frequentam campos agrícolas, portos de pesca e outras zonas urbanas, o que contribui para conflitos com o homem.

Desde 1994, que diversas ações de controlo populacional na Berlenga, dirigidas aos adultos e às posturas, têm contribuído para a redução da população, estimada em cerca de 13 150 indivíduos em 2013. No entanto, a colonização recente das áreas urbanas, provocou um alargamento da área de distribuição. Durante o LIFE Berlengas as campanhas de controlo populacional de gaivotas-de-patas-amarelas vão continuar, e vão ser testadas novas técnicas potencialmente mais eficazes.