AIRO
Uria aalge
Créditos: 
Dave Merret

O airo é a mais emblemática ave das Berlengas e é o símbolo da Reserva Natural. As colónias de nidificação portuguesas representavam o limite sul de nidificação desta espécie, no entanto, atualmente o airo poderá estar extinta como reprodutora. O airo nidificava em grandes números na ilha da Berlenga, mas a população reprodutora sofreu um declínio populacional vertiginoso na segunda metade do século XX. Em 1939 foram estimados cerca de 6000 casais na ilha da Berlenga. Em 1977 foram contadas apenas 320 aves adultas na mesma ilha, número que baixou para 70, em 1981. Nas décadas seguintes a população continuou a diminuir e em 2002 registou-se o último caso de nidificação conhecido. As observações recentes efetuadas durante o período reprodutor dizem respeito a apenas um indivíduo observado na ilha da Berlenga em junho de 2012. O airo faz o ninho em pequenas plataformas de falésias inacessíveis sobre o mar, onde a fêmea deposita um único ovo. Durante o LIFE Berlengas os locais históricos de nidificação vão ser largamente monitorizados com o objetivo de confirmar se a espécie ainda visita estes locais e se existem quaisquer evidências de reprodução nas Berlengas.

O declínio acentuado do airo nas colónias das Berlengas (e da Galiza) resultou da introdução de redes de pesca de emalhar sintéticas. Uma vez que a espécie mergulha a várias dezenas de metros de profundidade em busca de pequenos peixes, a mortalidade de aves adultas por afogamento neste tipo de redes terá sido decisiva para o decréscimo da população na Península Ibérica. Outros fatores que poderão ter contribuído para a diminuição da população da espécie em Portugal são a diminuição dos recursos alimentares por pesca excessiva e contaminação por hidrocarbonetos. Algumas medidas de conservação urgentes passam pela minimização das capturas associadas às artes de pesca, tais como a implementação de uma moratória espácio-temporal em torno das colónias de reprodução e a sua fiscalização. No âmbito do LIFE Berlengas pretende-se reforçar o conhecimento da distribuição do airo na ZPE das Berlengas, bem como a utilização da área por barcos de pesca, para aferir quais as potenciais interações e ameaças para a espécie.

O airo é pouco comum e ocorre em Portugal principalmente como invernante, a partir de novembro, e está presente até ao início da primavera. Distribuição essencialmente ao longo da faixa costeira e é notoriamente mais frequente a norte do cabo Carvoeiro, sobretudo a norte do cabo Mondego, existindo no entanto registos ao longo de toda a costa continental. A espécie prefere áreas pouco profundas da plataforma continental, não sendo, contudo, frequente a sua observação a partir de terra.